Se eu tivesse um blog, escreveria sobre astrologia #12
O que conecta nosso universo interno com o externo?

Primeiro ato: a vida, o universo e tudo mais
Em um dia ideal, eu acordo entre 6h30 e 7h. Depois de uns 15 minutos de preguiça e negação, me espreguiço e arrasto meu corpo sonolento até o banheiro. Se com tempo, medito. Se não, direto pro café. Entre ligar a cafeteira e começar os ovos mexidos, pego meu celular, caço o ícone do Google Chrome (o café ainda não saiu, as coisas ainda estão meio borradas na minha frente e a tela está quebrada). Digito “ponteiro astral”.
Esse nem é o nome do site, mas por algum motivo obscuro de comportamento de usuário é assim que eu acesso diariamente um portal feio de doer pra ver os trânsitos astrológicos. Lua, Marte, Mercúrio, Vênus. Ok, agora posso seguir o dia (e o café ficou pronto, graças a deus).
Por influência de uma amiga, entrei de cabeça no universo da astrologia. Ela interpretou meu mapa astral antes mesmo de me conhecer pessoalmente e eu fiquei chocada com aquelas informações assustadoramente precisas sobre mim.
Isso foi em 2015 e, de lá pra cá, rolou um boom gigantesco sobre o tema. Eu poderia apostar que você já viu alguma coisa sobre astrologia no seu Twitter, Tiktok ou Instagram.
Como quase tudo na internet, o tamanho do fandom é diretamente proporcional ao tamanho dos haters. “Astrologia não existe”, dizem. “É igual religião”. “É usado para manipular pessoas em massa”. “Não é Ciência”.
O único ponto que eu maju-bicho-grilo e você pessoa-cética-racional-antiastrologia vamos concordar é este: não é Ciência. Não pode ser provada pela Ciência.
Porque não é mesmo. Nem pretende ser. E tudo bem. :)
Existem muitas leituras sobre o que é astrologia e eu jamais teria a pretensão de dar qualquer veredito sobre isso. Mas, quando me perguntam por que eu acredito em astrologia, a minha resposta costuma ser bem simples.
As lunações afetam as plantações, os fluxos migratórios de animais, as marés. Acho que é me dar importância demais achar que eu, nós, não somos afetados, de forma alguma, por essas movimentações. Seria valorizar excessivamente o racional, o cético, o masculino como algo superior ao conhecimento empírico, ancestral, matriarcal — e eu não tenho interesse em guiar minha vida por isso.
E se mesmo assim você não acredita em astrologia, tudo bem. Eu não vou entrar no seu quarto no meio da noite com uma faca na mão perguntando a sua cidade natal e o horário de nascimento.
Mas vale refletir: por que a gente é tão desconectado do mundo ao redor? Ao mesmo tempo que estamos globalmente conectados com cada acontecimento social e político, quando a gente desliga a tela os laços com o mundo são frágeis. Tímidos. E considerando a passagem curta que a gente tem nessa vida, eu acho isso um desperdício.
Você sente alguma energia pisando na terra? Ainda se emociona entrando no mar? Arrepia sua nuca ver um pôr-do-sol-digno-de-Instagram?
O papo é tilelê, eu sei que soa assim. Também sou millenial, frenética e exageradamente conectada na vida digital. Inclusive, trabalho com tecnologia e marketing. Literalmente vivo disso.
Mas os 30 minutos diários que dedico para apenas observar o movimento dos planetas e ler os símbolos que me ajudam a interpretar essa dança de condução compartilhada entre interno e externo, me conectam com algo muito maior, mais forte.
Segundo ato: meu infinito particular
No meu perfil do Personare tenho 52 mapas astrais cadastrados. As pessoas descobrem que sei explicar algumas coisas, pedem pra eu ler o mapa delas, das parceiras, da mãe, do ídolo, da ex, do pai, e por aí vai. Assim eu colecionei um monte de histórias e formas de ser no mundo. E no caminho, fui estudando cada vez mais essa ferramenta.
Não sou astróloga e não tenho planos de ser. Mas acho curioso como eu falo para todas as pessoas do meu convívio sobre isso, mas não costumo falar do meu próprio mapa. Boa parte das pessoas próximas de mim não sabe nem metade dele. Uma coisa meio casa de ferreiro, espeto de pau.
Eu tenho Sol em Libra na casa 11. Signo de Ar. Sociável, energizada quando interajo com o meio. Conhecido por ser o signo apaziguador — e se eu não sou a maior apaziguadora de conflitos e angústias alheias, eu não sei quem é. Regida por Vênus, sou todinha pernalonga-de-batom: das arte, do belo, diplomático e culto. A ligação com causas sociais está enraizado em mim, sempre pronta pra colocar tudo na balança.
Meu ascendente em Sagitário joga tudo isso com potência máxima pro mundo. O signo da expansão. Da justiça. Da liberdade. Um pouco de fogo no meu mapa que me faz rir e fazer rir com uma certa facilidade.
No campo das emoções e das relações, tenho dois pés fincados na Terra. Lua em Touro. Vênus em Virgem. A Lua tá em casa, tá de pantufas e pijama, tá em júbilo. Meu apreço pelo conforto, pelos prazeres, pela comida boa e por tudo que é belo tá firme aqui. Toque também é importante — dizem que eu tenho um bom abraço.
Minha Vênus é um lado bem mais difícil de abraçar com o mesmo carinho. Olho pra dentro com exigibilidade, controle e cobrança — e posso tentar fazer o mesmo com quem está perto. Mas também sou prática, com dom para colocar emoções intensas num plano mais terreno e posso dar uma mãozinha pra resolver, se precisar.
Mais flertiane que uma libriana, só uma libriana com Marte e Mercúrio em Escorpião. Mas infelizmente não é só o charminho que é afiado. A língua também. Se desatenta, pico sem necessidade. Por medo. Por impulso. Por necessidade excessiva de controle. Mas também curo e transformo. E a comunicação não precisa ser agressiva, aprendi. Pode ser forte. Decidida. Posicionada. Eloquente. Poderosa.
Depois da fase revoltada-adolescente-que-não-acredita-em-nada, tem sido um longo caminho de descobertas e autoconhecimento. Passei por arteterapia, psicodrama, reiki, meditação e… astrologia, claro.
É isso que astrologia significa pra mim hoje: uma ferramenta que me ajuda a olhar pra dentro, entender e acolher sentimentos. Junto com a meditação, foi o que me deixou mais centrada, conectada comigo mesma, aterrada.
Eu sei que tudo isso pode parecer abstrato demais. Até meio gasto, com a quantidade infinita de conteúdos sobre o assunto (assim como basicamente qualquer outro assunto na internet). Tudo bem. Existem muitas outras formas de olhar pro mundo e olhar para si. No fim, é isso que importa.
Mas fica um pedido. Olha com atenção pra dentro de você e me diz: você não acha que tem um universo ali dentro?
Esse texto é de 2020, do meu falecido Medium. Eu já não tenho mais a mesma frequência de checar os astros e me permitir mergulhar um pouco mais na subjetividade da vida, do universo e tudo mais. Mas já que esse é um ano que eu quero me colocar no mundo mais exploradora, achei gostoso retomar e compartilhar aqui.
Outros links
O Nux Astrologia, da Luisa Nucada, é o meu lugar favorito na internet para acompanhar os trânsitos astrológicos. São leituras diárias curtas com um texto que é pura poesia.
O site feíssimo que tem as informações básicas do dia, pra quem já curte e manja um pouquinho de leitura astral.