Se eu tivesse um blog, escreveria sobre hobbies
A vida não é útil, mas a gente adora se complicar achando que é
Recém tinha feito 13 anos quando aprendi a tocar violão. Era uma questão de tempo, pra mim. Desde que me conheço por gente, a música atravessa a rotina da minha família. Tenho memória do meu pai tocando Almir Sater e Raul Seixas com meus tios. Do meu irmão tocando Nirvana com a guitarra nova, contrastando com as músicas religiosas que ele ensaiava na igreja do bairro — um primeiro palco comum para muitas pessoas que gostam de tocar algum instrumento.
Tem vídeos meus em todas as idades da infância, desde que aprendi a falar, cantando. Seja junto da minha família ou já mais performática, o que eu fui por boa parte dessa fase da vida. Tem um icônico na nossa família, em que se pode ouvir ao fundo o vinil do filme O Guarda-Costas, com Whitney Houston cantando como um anjo a clássica I Will Always Love you. O enquadramento no vídeo mostra uma Maju muito pequena, deitada na cama dos meus pais, cantarolando a música junto. Os olhinhos fechando nas partes mais bonitas.
Então, na adolescência, queria cantar as músicas que eu gostava. Por isso, pedi pro meu pai e meu irmão me ensinarem a tocar violão. Ganhei um bem antigo, que meu pai conseguiu negociando com um cliente dele que tinha uma loja de instrumentos. Era um violão bonito, de cor escura, com a caixa grande, o som grave, profundo. A primeira música que aprendi a tocar foi Everybody Hurts, do R.E.M. Tinha poucos acordes, acordes simples, um ritmo lento.
Foi mágico ver aquilo tomando forma, virando música. E logo eu estava obcecada com meu violão pra lá e pra cá dentro de casa. Toquei todas as músicas do meu repertório na época. De Avril Lavigne a Taylor Swift. De Goo Goo Dolls a Cachorro Grande. De Raul Seixas à My Chemical Romance. Além de tocar para a plateia involuntária da casa, eu gravava com a webcam do computador e publicava no Youtube.
Não muito afinada, não muito bem executado no violão. Mas aquele era meu hobby e eu não tinha pressa alguma de ser boa. Não sei nem se eu tinha pretensão de ser boa, de fato. Eu só amava tocar, amava cantar e amava compartilhar isso com o máximo de pessoas.
Então porque agora que sou uma mulher adulta, parece tão difícil manter um hobby?
O meu violão novinho sai do suporte na sala poucas vezes no mês, por pouco tempo. Começo uma música que não encaixa bem e já vou largando o coitado de volta pro lugar de decoração. E olha que esse é um hobby que eu já tenho um conhecimento básico.
E quando começo, parece que tem um cronômetro marcando quanto tempo vai levar pra eu ficar boa. A angústia do tempo passando sem resultados toma conta, o processo de aprendizado de repente parece uma jornada longa demais por um benefício que nem sempre parece claro. “O que eu ganho com isso que está tomando horas do meu dia?”
O problema disso, além de me privar de simplesmente viver experiências novas, é não saber o que fazer quando não estou trabalhando.
Eu vou dizer pra vocês como eu tenho passado: me preocupando com coisas que estão fora do meu controle e rolando o feed do Instagram para ignorar essas preocupações. Sinto que essa não é uma experiência individual.
Se tudo precisa ser rápido, produtivo e útil, não sobra espaço para aprender. O aprendizado, por mais que tentem vender essa ideia por aí, não se dobra à lógica do capitalismo tardio. E o Ailton Krenak explica isso muito bem no livro A Vida Não é Útil:
A vida é tão maravilhosa que a nossa mente tenta dar uma utilidade a ela, mas isso é uma besteira. A vida é fruição, é uma dança, só que é uma dança cósmica, e a gente quer reduzi-la a uma coreografia ridícula e utilitária.”
A verdade é que a gente merece descanso de qualidade — não um desmaio de exaustão depois de tanto trabalhar. Então não vai ter outro caminho que não seja experimentando e tendo hobbies que são só… hobbies.
Desenhar, pintar, montar quebra-cabeça, tocar violão, cantar com sonzinho de karaokê no fundo, escalar, montar bijuteria, fazer crochê, bordado, testar receitas, não importa. Só importa que seja gostoso. What a concept, huh?
Outros links
Eu tinha abandonado Taylor Swift lá no começo da faculdade. Nada demais, só perdi o interesse mesmo. Mas minha amiga (obrigada, Lari 💛) fez uma playlist que mudou tudo e cá estou agora ouvindo o álbum novo sem parar.
Depois de uma pausa nas corridas por conta da viagem de férias, estou de volta — e com tênis novo. O Corre 3 é muito famoso por ser muito leve e confortável e minha esposa me deu de presente! Já testei uma vez, mas ainda não posso dar review porque o primeiro uso nunca é muito agradável até que ele se adapte ao pé.
O Rio Grande do Sul continua precisando de ajuda. Se você mora no sul do país, é provável que muitos mercados e shoppings ainda estejam recebendo doações! Água e itens de higiene pessoal continuam essenciais nesse momento, assim como roupas de frio. Se não tem nenhum ponto de coleta perto de você, aqui tem várias informações que podem ajudar.
Amo que as comédias românticas tenham voltado pro cinema e isso tem me feito reassistir algumas mais antigas! Vi Pitch Perfect com a gatinha, que nunca tinha visto o filme. Quanta bobagem, que coisa boa rir de coisas absolutamente ridículas!!!
Comer feijoada em Florianópolis: gostoso demais. Comer feijoada em Caraíva, na Bahia, depois de andar quilômetros na areia fofa da praia: SEM PALAVRAS!!!!!!!!
Comecei a fazer musculação numa academia do bairro, pequena e bem cozy. Estou apaixonada, porque pela primeira vez na vida um instrutor ouviu de verdade o que eu queria e não me enfiou um plano de treino pra emagrecer. Eu quero ficar FORTE e correr melhor — e é pra isso que ele está me treinando. 💪🏻
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Até a próxima!
A música é um sopro de vida na existência. Mas o pensamento de utilitarismo em tudo que fazemos quer roubar todo prazer que temos.